Um festival em homenagem a Faunus Artificiosus/ A Festival in Honor of Faunus Artificiosus
Deixa eu contar quem sou, o que diabos significa Faunalia Artificiosa e o que rola aqui!/ Let me tell you who I am, what on earth Faunalia Artificiosa means, and what this is all about!
[Leia em Português] [Read in English]
Olá! Meu nome é Juliana Fausto e sou uma brasileira carioca. Desde que me entendo por gente, os bichos, a literatura e o cinema me fascinam. Meu sonho em criança era ser Alice atravessando o espelho em direção ao paÃs das maravilhas - ela até vivia com gatos, meus companheiros mais próximos! Com o tempo, comecei a perceber que havia algo em comum nesses interesses: eram todos instanciações de outros mundos.
Em sua maravilhosa estranheza, esses mundos mostram formas de percepção e expressão que não são as minhas. São, ao mesmo tempo, um outro e o próprio caminho para esse outro - mundo-além e chave de acesso que, pelo simples contato, fazem com que eu deixe de coincidir comigo mesma, intensificando e ampliando o mundo que habito. Não há, para mim, prazer maior do que esse, que reconheço como o amor: o desejo pelo que não é (m)eu.
Me formei em filosofia, fiz mestrado em literatura e doutorado em filosofia. Entre uma coisa e outra, por todos os lados, por cima e por baixo e pelo meio, atuei como professora, assistente de direção em teatro, crÃtica de cinema, revisora e tradutora de livros e até como estilista de moda. Hoje me dedico sobretudo à escrita e à s aulas, o que uma busca na internet por meu nome revela. MetafÃsica, estética, epistemologia, polÃtica: criaturas, coisas e formas insuspeitas, artes e ciências experimentais e/ou de gênero, tudo o que (me) é estranho me interessa.
Resolvi começar este espaço para compartilhar um pouco destes mundos que não são (m)eus. Para tanto, recorro à figura do deus romano Fauno, a quem ofereço uma libação.
Contam por aà que duas vezes por ano, em fevereiro e em dezembro, celebrava-se a Faunalia, festival em homenagem a esse deus das florestas, dos rebanhos e da agricultura - entre outras coisas - em que se lhe dedicavam oferendas e danças. Uma das deidades romanas mais antigas, diz-se que Fauno era neto de Saturno, filho de Pico e pai de Latino, ao mesmo tempo um deus selvagem e artificioso, além de oracular. Enviava, de bosques sagrados, notÃcias sobre o futuro. Segundo VirgÃlio, depois de um sacerdote oferecer um sacrifÃcio ao deus, o consulente deveria vestir-se com a pele da vÃtima e dormir; Fauno então lhe falaria em sonho ou o faria ouvir vozes. Natureza, cultura e sobrenatureza confluÃam nele e a partir dele.
É por meio desse enquadre que o invoco e homenageio, desejando estabelecer uma contÃnua Faunalia que, Artificiosa, seja capaz de honrar sua liminaridade, ou melhor, a infinita conectividade que não cessa de vincular natureza, cultura, sobrenatureza, céu, terra, deuses, espÃritos, fantasmas, monstros, titãs, bichos e coisas e humanos e máquinas e muito mais no cosmos.
Tudo existe e qualquer coisa é possÃvel. Espero estar à altura dessa noção. Sejam bem-vindes, a Faunalia Artificiosa é para quem quiser.
Hello! My name is Juliana Fausto, and I’m a Brazilian from Rio de Janeiro. For as long as I can remember, I’ve been fascinated by animals, literature, and cinema. As a child, my dream was to be Alice stepping through the looking glass into Wonderland—she even lived with cats, my most intimate companions! Over time, I began to notice a common thread running through these passions: they were all instantiations of other worlds.
In their marvelous strangeness, these worlds reveal ways of perceiving and expressing that are not my own. They are both an other and the very pathway to that otherness, simultaneously the world beyond and the key to entering it, causing me, once I step within, to no longer coincide with myself, intensifying and broadening the very world I inhabit. For me, there is no greater pleasure, and I’ve come to identify it with love: a desire for what is not m(in)e.
I studied philosophy, earned a master’s degree in literature, and completed a doctorate in philosophy. Along the way, I took on many roles—teaching, assisting in theater direction, writing film criticism, editing and translating books, and even working briefly as a fashion stylist. Today, I focus primarily on writing and teaching, as a quick internet search of my name will show. Metaphysics, aesthetics, epistemology, politics; creatures, things, and unexpected forms; experimental arts and sciences that are often gendered or genre-bending—anything strange (to me) fascinates me.
I decided to create this space to share some of these worlds that are not m(in)e. To do so, I turn to the figure of the Roman god Faunus, to whom I now offer a libation.
It is said that twice a year, in February and December, the Faunalia festivals were celebrated in his honor. Faunus, the god of forests, herds, and agriculture, among other things, was offered gifts and dances. One of the oldest Roman deities, Faunus is described as the grandson of Saturn, the son of Picus, and the father of Latinus. At once wild and artful, he was also an oracular god, sending news of the future from his sacred groves. According to Virgil, after a priest sacrificed a sheep to the god, the seeker should dress in the skin of the victim and go to sleep; Faunus would then speak to them in dreams or make them hear voices. Nature, culture, and supernature converged in him and through him.
It is through this framework that I invoke and honor him, hoping to establish a continuous Faunalia that, Artificiosa, celebrates his liminality - or rather, the infinite connectivity that endlessly weaves together nature, culture, supernature, sky, earth, gods, spirits, ghosts, monsters, titans, animals, things, humans, machines, and much more into the cosmos.
Everything exists, and anything is possible. I hope to be worthy of this vision. Welcome! Faunalia Artificiosa is for anyone who wishes to join.
